Desde pequena menina tinha medo do amor, de falar do amor, de pensar no amor, de viver, sentir e dizer "isso é amor". sempre via os amores das irmãs e pensava que não queria isso pra si, queria algo mais, muito mais. e que eles, irmãos e pais, não precisavam passar por esse apego por alguém que logo vai embora, namorados sempre vão embora. menina queria mais. menina precisava de mais. e por mais que tivesse medo, sabia que isso uma hora ia acontecer. e de certa forma, mesmo sem esperar, pois nunca gostou de esperar por nada, o amor ia aparecer. forte, verdadeiro e único. como nas letras dos poetas. como nas canções. e se os namorados iam embora, o amor era eterno. ele ia ficar. então decidida disse "só apresento namorado com o qual vou casar, estejam ciente: aquele homem que eu apresentar, sobe comigo ao altar". e assim foi durante anos, namorados iam e viam, nunca de portão, mas também não escondidos. só não era oficial. até que chegou o dia. até que chegou o momento. e chegou alguém tão especial, tão único, tão verdadeiro, tão dela que até planejar filhos menina conseguia sonhar. flutuou. sonhou. desejou. pôs os pés no chão. delirou novamente. perdeu a cabeça. perigando perder o semestre. e estava tudo tão intenso. tão forte. tão poderoso. chegou a hora. rapaz quer conhecer seus pais. rapaz marca jantar. rapaz compra flores. rapaz puxa cadeira pra sogra. rapaz dá beijinho na testa da menina. sogro ardido de ciúmes. rapaz pede vinho, sogro manda trazer coca-cola. clima fica tenso. e rapaz a todo momento tranquilo, tranquilo, tranquilo.. aceita coca-cola. sem interrogatórios. apenas risadas. conversas leves. bons amigos. sogra conta a história da menina. aproveita e fala do seu drama, fobias e melancolia. sogra fala da "lenda" e avisa que ele é o primeiro e pergunta se provavelmente o último. sem cobranças. apenas pra descontrair. rapaz responde "provavelmente, hoje só depende dela". menina se sente num conto. de fadas. e reza pelo "felizes para sempre".
Agora rapaz fecha porta do quarto. enfim. sós.