maio 19, 2011

Café com lágrimas

O som das gotas que ondulam na panela, na pia cheia. Daqui a pouco transborda. Eu, sentada olhando pra mim, refletida numa forma não muito humana. Enquanto esse outro eu rotula sem parar, reclama, orienta, maximiza, relativiza, filosofa, desabafa, eu me concentro na minha pobre imagem enfadada, refletida no vidro do fogão, com pernas cruzadas, mão no queixo, assustada a ouvir os gritos das bolhas e vapores vazantes da chaleira. Apita. Esse som que nos seduz. Que me leva até o meu outro. Longe. Distraído. Vagante. Por que diabos...? Deixa. Já foi. Nunca consigo concluir nada. Nem escolher as palavras certas. Tenho tesão pelo errado. A minha solidão, amiga. A minha melancolia. Sinto o calor da sua mão na minha face. Da sua respiração. E só de pensar, me invade a mais profunda tristeza. E alegria. Tem coisa mais pornográfica do que sexo com amor? Tristeza. Eu sempre soube que você nunca ia deixa-la. Sempre soube que teríamos silêncio. Sinto falta de caminharmos juntos e você segurando a minha mão. Quente. Mão que, na verdade, você nunca segurou. Grito. Vapores. Apitou. Café com lágrimas.