No seu reino eu sempre fui princesa. A querida. A amada. Tudo o que queria, quando queria, onde queria. Nunca um "não". A mais linda. Aos poucos construí o meu castelo, frágil, mas bem planejado. Numa forma segura de escapar das suas armadilhas. Não podia caminhar sozinha nas calçadas, ficava sempre do lado protegido. Os amigos selecionados, as escolas vistoriadas, a comida inspecionada, cada detalhe meticulosamente planejado. Nada podia sair do seu alcance. Nada podia me sufocar mais. Tinha razão, mesmo não tendo. Contava cada inspiração mesmo quando não respirava. Briguei. Esperneei. Gritei. Continuo sendo princesa. Uma princesa-prisioneira. Nesse reino que não é mais meu, sou uma princesa que incomoda. Uma princesa sem suditos. Sem tesouro. Sem castelo.