setembro 29, 2008

Absorto




Estava lendo um livro muito massa, chamado "A cor da língua e outras croniquinhas de linguística", do Sírio Possenti, e em um dos trechos - Um exemplo de ignorância, de certa forma ele trata sobre a "ideologia". Nem me atrevo a discutir sobre o texto do Possenti (que por sinal é perfeito). Foucault (1999) afirma que aquele que lê (uma obra de arte, um livro, um filme, uma fotografia, uma história em quadrinhos) entra na cena e ao construí-la é construído, é subjetivado pelos discursos que no texto operam e, neste mesmo jogo, posicionado como sujeito. Após a leitura, fiquei analisando esse nosso comportamento socialmente construído.

O nosso comportamento, a nossa identidade e personalidade*, são construídas a partir do nosso nascimento. *Engraçado como algumas palavras tomam "rumos" diferentes do seu significado, propriamente dito, e passam a ser utilizadas de formas "indevidas". Personalidade seria tudo aquilo que diferencia um indivíduo do outro. Tem personalidade aquele que consegue chamar atenção por alguma "qualidade", seja porque é dinâmico, alegre, extrovertido, porém existem também os que não tem personalidade alguma, aqueles que te imitam, os apáticos, chegam a ser irritantes não é não? Mas usada dessa forma, a palavra está demarcando traços que as tornam(ou nos tornam) diferentes, porque não dizer melhores ou piores que os outros..não? Diferenciar e determinar são por acaso sinónimos? Entretanto, é com o crescimento que começamos a perceber as diferenças entre o masculino e feminino. Essa diferença é percebida no que é imposto, primeiro na infância: menina usar rosa/menino usar azul, menina brincar de boneca/menino com carrinho, menina ser frágil/menino ser forte, menina ser baixinha/menino ser grande, meninas choram/meninos não... Engraçado, eu devo ter sido muito "mal criada", quando criança preferia brincar com os meninos, ou seja, brincava de bola e carrinho na rua, era forte, não chorava, sim fiz ballet, mas quem disse que eu não pegava "o velho baba"?? Por muitas vezes quebrei esses preconceitos. E isso não influenciou em nada na minha sexualidade, muito pelo contrário, mas isso já é um outro assunto. Essa ideia de mulher e homem, somos nos (sociedade) quem construimos.

Já na fase adulta, noto uma espécie de subordinação da mulher ao homem, uma relação poder e sexualidade. Diferenças de coisas que homem podem fazer e mulheres não, uma "guerra entre sexos", uma busca por um isolamento. Estranho quando tentam separar esses dois "pólos"; na moral, tenho meu contraste com as feministas e morro de rir com os machistas, até porque é impossível vivermos isoladamente, perceba: um só existe e adquire significado através do outro. O que seriam dos homens sem nos mulheres?? E nos mulheres, sem eles? É estranho, as vezes parece que ser mulher é mais um gênero. Estava observado, quando estamos num trânsito, engarrafamento, calor, suor, estresse e vem um motorista do lado e faz a maior merda, pensamos sempre numa resposta "feminina", tipo "vai cega? só pode ser uma mulher nessa porra.." É igual a ideia de que mulher não sabe fazer baliza!!! Foi construída uma imagem de que a mulher é péssima no trânsito. Isso porque eu estou falando apenas do trânsito, mas a mulher é subjugada como inferior em diversas áreas, o que é uma mentira deprimente. Não há inferioridade, odeio essa ideia de melhor/pior, capaz/incapaz, sou meio rebelde para limites. Mas é exatamente isso que delimita essas nossas diferenças, os limites...limite que se impõe, limites que aceitamos.

Perdi o foco!

Continua...
(eu acho!!)